Gravada totalmente no Vale do São Francisco, tendo incluídas como cenário as cidades de Juazeiro, Petrolina, Lagoa Grande e Paulo Afonso, a minissérie Amores Roubados elevou a audiência da Rede Globo nas duas últimas semanas, graças ao excelente roteiro, fotografia, trilha sonora, e claro, cenas quentes entre os atores Cauã Reymond, Ísis Valverde, Dira Paes e Patrícia Pillar. Mas muita gente não ficou satisfeita com o final da história, e o autor George Moura explicou o porquê da decisão por aquele desfecho.
O autor pernambucano mudou o final do livro “A Emparedada da Rua Nova”, no qual se baseou para escrever “Amores Roubados”, gerando polêmica entre os espectadores que acompanharam a minissérie. Veja:
George Moura
"Foi uma escolha difícil, muito pensada, conversada, refletida, que me tirou algumas noites de sono. No original do maravilhoso livro de Carneiro Vilela, a questão central é a moral do século 19. Antônia fica grávida de Leandro e não pode aparecer assim para a sociedade; grávida e sem um marido para casar. Jaime então propõe à filha que ela faça um casamento de conveniência com João, no original, seu primo legítimo. Era muito comum nessa época casamento entre primos. João aceita a proposta, mas Antônia se rebela. Diante disse, Jaime, para manter as aparências na tradicional sociedade recifense, toma uma atitude extrema. Ele empareda a filha viva e grávida dentro de um cômodo da própria casa.Esse caráter moral da punição já não faz sentido em pleno século 21.
Diante desta constatação foi preciso repensar o desfecho desse folhetim do século 19 para uma minissérie que se passa e é vista no século 21. Acredito que a maior punição para Jaime, nos dias de hoje, é que toda a sua riqueza, construída com afinco ao longo da vida, seja herdada pelo filho de um homem que ele matou. Quer punição maior do que esta para um homem que dedicou a vida para construir um império de dinheiro e poder? E ainda mais: as mulheres hoje estão cada dia mais fortes. Antônia e Isabel, cada uma a seu modo, conseguem se solevar no final. E Leandro, amor verdadeiro de Antônia, renasce, à margem do rio São Francisco, em forma de um filho. O rio, com sua água pura, além de fazer o sertão frutificar, leva tudo, até as grandes mágoas. Como diz o poeta Ferreira Gullar: 'O que passou, passou. Jamais acenderá, de novo, o lume que apagou'".
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